segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Nova dieta para obesos chega ao Brasil

Os substitutos alimentares Pronokal vêm em sachês que, quando diluídos em água se transformam em em alimentos de consumo habitual, como panqueca, omelete, doces, café e suco(Pronokal/Divulgação)

Criado na Espanha, o novo método é composto por três etapas: emagrecimento, reeducação alimentar e manutenção do novo peso. Os adeptos chegam a perder até 10 quilos por mês na primeira fase, a mais drástica

Estima-se que 50 milhões de brasileiros estejam travando uma dura batalha contra a balança neste momento. Somente 2% dos que chegarem ao peso ideal conseguirão manter a silhueta por mais de dois anos. Enquanto isso, no universo do emagrecimento, surgem receitas e mais receitas com a promessa de garantir resultados fáceis e milagrosos para perder os quilos extras. Agora, um novo método de emagrecimento, com respaldo científico, começa a ganhar popularidade no país.

Criado na Espanha com o nome de Pronokal, o novo regime foi desenhado para ser utilizado por obesos. A dieta foi desenvolvida a partir da tese do pesquisador George L. Blackburn, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Em 1973, ele descobriu que a ingestão de uma quatidade específica de proteínas de alto valor biológico faz com que o organismo transforme a gordura armazenada em energia.

Presente em 15 países, como Espanha, Inglaterra, Suíça, Bélgica, Canadá e México, o método já foi seguido por mais de 350 000 pacientes no mundo, sendo 4 000 no Brasil. A dieta é ancorada em três etapas: emagrecimento (baseada na restrição calórica), reeducação alimentar e manutenção do novo peso. "A Pronokal só pode ser prescrita por um médico habilitado. O paciente deve fazer acompanhamento a cada 15 dias, além de tomar alguns cuidados específicos como manter uma reposição adequada de água e fazer suplementação de vitaminas", explica a endocrinologista Isabela Bussade, responsável pelo método país.

O cuidado redobrado deve-se a uma alimentação extremamente restritiva. Na primeira etapa, o paciente ingere 800 calorias por dia, divididas igualmente em seis refeições -- o que corresponde a uma média de 133 calorias cada uma. Nesse período, os alimentos convencionais são substituídos por sachês que atendem às necessidades recomendadas de vitaminas, sais minerais, micronutrientes, ácidos graxos e proteínas. Diluídas em água, as porções em pó se transformam em salgados, como panqueca e omelete, doce (mousse de chocolate e brownie, por exemplo), e até bedidas, como café e suco de frutas. O paciente pode complementar a dieta com salada.

Corpo cetônico - De acordo com a endocrinologista Isabela, a composição balanceada faz com que o processo de emagrecimento não seja tão difícil. Por mais paradoxal que pareça, trata-se de um mecanismo bioquímico. Na privação alimentar, o organismo fabrica um produto químico chamado corpo cetônico. Esse composto tem duas funções primordiais. Uma delas é dar energia ao coração e ao cérebro ante a carência alimentar. A outra é inibir a ação do hipotálamo, região cerebral controladora da fome, causando saciedade. Cardápios com um patamar inferior a 800 calorias também estimulam a produção de corpos cetônicos, mas em proporções altas demais. Nesse caso, há risco de enjoos e dor de cabeça.

O objetivo é que o paciente perca 80% do sobrepeso no processo de cetose. A restrição calórica, em conjunto com o baixíssimo consumo de carboidratos (50 gramas dipor dia) faz com que se perca de 7 a 10 quilos por mês. Ou seja, se o desejo é perder 18 quilos, a primeira etapa terá, no máximo, dois meses de duração.

O outro lado -- Para Walmir Coutinho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a dieta de drástica restrição calórica é uma ferramenta comprovadamente eficaz em programas para gerenciamento de peso, indicada para pacientes com obesidade grave. Mas há ressalvas, claro. "A grande limitação deste tipo de dieta é a adesão ao longo prazo. Como é muito restritiva, os pacientes não conseguem nem devem segui-la por muito tempo. Por isso os principais beneficiários são pacientes que precisam de um resultado de curto prazo. Além disso, durante a dieta o acompanhamento médico é essencial, já que ela pode trazer complicações como alterações eletrolíticas de potássio e de outros elementos, trazendo um potencial risco para o organismo. O ideal é, com o passar do tempo, substitui-la por uma dieta balanceada de baixa caloria", afirmou. Mais: o método é contraindicado para pacientes com doenças hepáticas, renais, cardiovasculares ou transtorno de comportamento alimentar.

A segunda etapa da Pronokal, e talvez a mais importante, consiste na reeducação alimentar. Nessa fase, o paciente irá perder os 20% restantes para atingir o peso ideal, mas o emagrecimento será mais lento. Aqui serão incorporados, progressivamente, todos os grupos alimentares, de forma escalonada, conforme as refeições prontas são retiradas. Por fim, após alcançar o peso ideal traçado no começo do programa, começa a etapa de manutenção. O novo peso deverá ser mantido seguindo apenas uma dieta saudável e com exercícios físicos.
Nos dois anos seguintes, os pacientes recebem assessoria nutricional, suporte para elaboração de treinos e coaching emocional. Esse acompanhamento multidisciplinar é realizado por telefone ou online. "O tratamento tem duração de dois anos porque esse é o tempo necessário para o organismo reconhecer o novo peso e conseguir mantê-lo", conta a endrocrinologista.

O custo é alto: o valor do tratamento completo (aproximadamente 6 meses) fica em torno de R$ 1.900 no primeiro mês e R$. 1.400 no segundo. A partir daí o custo cai de 50% a 75%, já que os suplementos vão sendo retirados e substituídos por alimentos tradicionais.
Outras dietas - A nova dieta segue a linha dos regimes rigorosos da moda, que devem ser acompanhadas de perto por profissionais. A mais célebre nesse cenário é a Ravenna. Ancorada nos princípios da restrição calórica aliado à prática de atividade física, a Ravenna é um método de emagrecimento criado pelo médico argentino Máximo Ravenna. Um dos pilares é limitar em 800 a 900 as calorias diárias.

O cálculo calórico da dieta portenha é só o começo. O paciente é submetido a um rigoroso acompanhamento de profissionais de saúde. Ele passa a frequentar os centros Ravenna (são cerca de duas dezenas em cinco países - três delas no Brasil), onde participa de grupos de autoajuda, recebe orientações médicas, nutricionais e pratica atividades físicas. Outro aspecto importante da abordagem é abolir o hábito de petiscar ao longo do dia: a regra é comer apenas quatro vezes por dia. Com isso, a promessa de Ravenna é a redução de 5% a 10% do peso por mês de tratamento. Recentemtne, Dilma Roussef perdeu cerca de 15 quilos com a Ravaenna.

A pioneira das dietas radicais de sucesso foi a Atkins. Criada na década de 70 pelo cardiologista americano Robert Atkins, ela condenou os carboidratos e enalteceu as proteínas (leia-se comidas gordurosas) como aliadas dos corpos esbeltos. Depois dela, vieram os programas de Beverly Hills e seu cardápio à base de abacaxi. Esses regimes, diferentemente dos novos métodos, não pregam o acompanhamento médico -- o ideal para a saúde.

Fonte: Veja Abril